26 de março de 2009

Só.


Veio a madrugada, ela sempre chega, vazia e fria. Dessa vez ela veio mais devagar que o de costume, normalmente ela me devora com uma rapidez que chega a me deixar fraca, hoje ela veio tão lentamente que quase me matou aos suspiros.
Jamais estive tão só. Triste e só.
Precisei de uma conversa, de um riso, uma música. A conversa não veio, o riso foi pra longe e a música me fez chorar. Fui ler, tentei fazer com que as palavras penetrassem minha alma, mas nunca pareceu tão impossível.
O silêncio é quebrado pelo barulho da chuva, que há dias vem sendo minha companhia em horas que parecem passar assim, tão arrastadas.
Uma gota cai na folha do livro e eu percebo, é em vão. Não estou lendo, estou passando as páginas e amanhã terei que reler todas elas. Paro, olho o relógio, penso.
Eu não deveria ter feito isso. Não deveria ter pensando. As lágrimas, que estavam tão longe, vieram, molharam meu rosto, me fizeram tremer.
Lembrei-me então da minha companhia esta noite, uma companhia que cresce em mim e que me faz sentir ainda mais vazia. A vontade então foi só poder voltar no tempo, corrigir alguns erros, não conhecer algumas pessoas e deixar que outras tivessem entrado de verdade em minha vida. Eu sou fraca, sempre fui nunca neguei e eis aqui minha maior fraqueza: Meu passado.
Tem horas que a vontade é apagar tudo, passar uma borracha, não fosse ele agora eu não estaria assim, tão só. Mas sou fraca, já disse, e mudo logo de ideia. Como não me permitir viver tanta coisa? Eu queria sim voltar atrás, fazer diferente! Mas o passado não volta, nem pra ser apagado, nem pra ser mudado, eu já deveria ter me acostumado com isso.
Volto pro quarto, na rede fica o livro, o urso, o retrato que eu na verdade não queimei. O quarto é invadido pela música que eu deixei tocando repetidas vezes, o frio aqui dentro é ainda maior e a madrugada, vista daqui, é bem mais escura - a solidão também.
A cama lembra, a música fala, as paredes gritam. Tudo em nome da mesma lembrança, a lembrança do que era duplo e virou solidão.
Eu ainda quero conversar, ainda quero deitar minha cabeça num colo e chorar e ainda quero com todas as forças poder fazer diferente, não com relação ao relacionamento e sim com relação ao que vive dentro de mim. Esperava ter palavras que encorajassem que ajudassem que me dissessem como agir... Só veio o silêncio, quebrado pela música triste.
Não tem outra forma, não dá. O que eu preciso é me desligar do que eu vivi desligar-me do que passei e desligar-me do que eu queria viver. Não devo chances a ninguém que não seja a mim mesma. Não espero que ninguém entenda apoie ou aceite.
Quero alguém que ao menos seja capaz de ver que eu não quero muito, só um consolo, uma palavra, a presença - sem promessas ou desespero. Eu só queria não me sentir assim, tão só.

Um comentário:

Vera disse...

Não sinta-se sozinha, mocinha.

Agarre-se a algo que transmita força, fé e segurança a você. Pode ser uma oração, um amigo, uma foto, uma flor. Vale tudo.

A madrugada sempre causa esta melancolia. Por isso, tente dormir mais cedo ;-))

Beijos.