29 de outubro de 2012

Saudade dos tempos de bolha.



Um dia grudado e no outro, distante demais. É tanta gente que fica pelo caminho. É tanto "E aí, como vai?" sem graça que um dia já foi abraço apertado e troca de segredos. A vida leva muito da gente e nos traz coisas maravilhosas também.
Tem perda difícil de aceitar. Tem amor difícil de morrer. Tem história que só teria final feliz se não tivesse fim. E a gente, mesmo sem entender, vai seguindo em frente porque é o que dizem que tem que ser feito, porque diz o ditado que "as coisas são como têm de ser".
O que resta é torcer para que ao longo do caminho as pessoas tenham ficado com lembranças boas à nosso respeito. Que tenhamos conseguido ser o que elas esperavam, o que somos de verdade, o melhor de nós. E nos convencermos de que o que foi, já era! Mas o melhor ainda está por vir, está exatamente no que não conhecemos ou tivemos ainda. Está em quem insistiu em ficar, em quem não se perdeu. O melhor está no verdadeiro e o verdadeiro dura para além dos finais, para além da saudade que a distância costuma causar. Para além da dor da ausência.
Que o que temos em nós seja verdadeiro. Que não nos percamos ao perder alguém. Que nos façamos fortes quando tudo nos levar ao contrário. Que as ausências sejam preenchidas com presenças verdadeiras, duradouras, essenciais. Que o "breve" só seja assim porque todo o tempo do mundo parece pouco quando estamos felizes. Que o felizes para sempre se faça real. E que nem mesmo a distância apague o amor, para sabermos assim que ele é verdadeiro.

18 de outubro de 2012

Perfeitamente imperfeito.


Aqui estamos nós: seres imperfeitos esperando pela perfeição do outro. Nós que choramos sem motivo, brigamos por tédio, reclamamos pra passar o tempo, sentimos ciúmes algumas vezes sem sentido. Nós que nos conhecemos como ninguém e por isso bem sabemos que alguns defeitos nossos são realmente bem difíceis de aturar. Mas continuamos crédulos de que há um ser por aí que nos merece e que, por tanto, deve ser íntimo da perfeição. Merecemos, no mínimo!, perfeição. É o que pregam que a gente deve achar.
Qualquer dia desses, quando errarmos, nos pegaremos pedindo desculpas. Qualquer hora dessas diremos que, se estivéssemos no lugar do outro, tentaríamos entender. Seres falhos que somos, diremos coisas sem pensar, tomaremos atitudes precipitadas, faremos escolhas erradas. E esperaremos, principalmente nesses momentos, que haja alguém capaz de nos entender e perdoar. Alguém capaz de nos amar independente disso. Olha nós, seres imperfeitos querendo receber mais que o que temos pra dar!
Se cometemos erros, é normal que o outro erre também. Se há amor, há perdão. Se há diferenças, alguém vai ter que ceder. E é então que, se pararmos para pensar, perceberemos que estamos fazendo a busca de forma errada. É a imperfeição que queremos. A imperfeição que nos complete e nos entenda. Alguém que tenha defeitos perdoáveis e cometa erros aceitáveis. É impossível acertar sempre. E deve ser um filme de terror conviver com alguém que, de tão perfeito que é, vê defeito em tudo que fazemos.
Quem ama briga mesmo. Mete os pés pelas mãos vez em quando. Tem medo de perder o outro e, por conta disso, age de forma impensada algumas vezes. Quem ama quer chamar atenção e por vezes não sabe direito como fazer isso, mas passa por cima do orgulho ferido e sabe a hora de pedir desculpas. Quem gosta pede desculpas com uma frequência um pouco chata, por ter medo de ser mal interpretado. Mas quem ama de verdade sabe que não precisa pedir desculpas o tempo inteiro, porque o outro entende seus defeitos. Amor de verdade é exatamente a aceitação da pior parte. Amar alguém que não erre nunca deve ser muito fácil, mas a gente nunca vai poder ter certeza disso porque pessoas sem erros não existem. E se existirem devem saber muito pouco da vida, devem ter muito pouco para nos acrescentar. As melhores pessoas cometeram erros para aprender a acertar.
Vamos encontrar alguém que nos acrescente quando soubermos que um bom diálogo resolve a maioria das diferenças. Quando percebermos que o amor está intrinsecamente ligado ao dom de perdoar. Quando soubermos ver além das falhas: porque é lá no íntimo que se esconde o melhor e o pior, e não no que os olhos podem ver e as más línguas julgar. Perfeição no quesito amor é, antes de mais nada, a troca. Acrescentar para ser acrescentado. 
Perdoar tudo não é amar, bem sabemos. Não é por termos defeitos que nos doaremos pra alguém que viva de erros. Mas há sempre um equilíbrio: alguém que erra, mas sabe como concertar. Alguém que tem defeitos proporcionais às qualidades. Alguém que sabe exatamente a hora de parar, pra não passar do ponto e correr o risco de machucar. O ser capaz de nos fazer feliz é aquele que, independente dos erros que comete, se preocupa em nos manter bem, em manter o amor bonito, em fazer a história durar. E erra, muitas das vezes, tentando acertar.
Há sim por aí alguém perfeito pra gente, nas imperfeições. Alguém que a gente vai amar ver a carinha de arrependimento. Alguém que compensará a briga com amor em dobro. Alguém que nos amará independente dos nossos defeitos e quando menos merecermos. Quem se ama e se aceita do jeitinho que é, sabe que isso é o suficiente pra qualquer amor ser bonito e duradouro. Aceitemos o outro então, com todos os defeitos e qualidades que ele tiver. Aceitemos o drama dos amores reais, porque felizes para sempre só existe em conto de fadas. Quem quer amor tem que saber: Nem só de flores se faz um romance. São os tropeços no meio do caminho que fazem as histórias mais bonitas.

2 de outubro de 2012

Vida longa ao desapego!

Difícil é não querer. De verdade. Bem além do orgulho besta e da vontade de seguir em frente. Bater o pé, erguer a cabeça e apagar. Se não da memória, mas da vida. E ao invés de tentar provar isso pro mundo, apenas fazê-lo por si mesmo, por saber que não querer vai doer bem menos que continuar querendo. Por ter pra si que já não faz bem e, diante disso, é melhor desfazer.

Desapego é o nome. E o sonho de consumo de muitos. Um botão que simplesmente nos desprenda de um sorriso e da voz mais tentadora do mundo. A receita pro sucesso da vida, o remédio pros buracos adquiridos pelo coração. Quem não quer? Jogar fora o que não serve. Apagar o que não faz mais sentido. Deixar pra lá o que tem mesmo de ficar é no passado. Caminhar sem sombra dos antigos passos ao lado. Sem saudade deles. Sem vontade de tê-los de volta.

Não apenas não ligar, como não atender caso o telefone venha a tocar. Não querer saber da vida do outro por estar ocupado demais vivendo feliz a sua própria. Não querer atingir por não ser mais de interesse. E deixar de ser o alvo fácil dos domingos de solidão, quando o futebol não preenche e os amigos estão ocupados demais pra uma cervejinha. Dizer "NÃO!" e ser de verdade, com voz firme e convicção única. Sem arrependimento algum, sem esperar que esse comportamento gere uma nova oportunidade.

Tratar de ser feliz de dentro pra fora, e não o contrário. Feliz de não sofrer pelo celular que não toca. Feliz por não sentir ciúme, medo, culpa. Feliz por não ver a vida girar em torno de uma outra, que não tem a mínima vontade de correr ao lado. Qualquer desprendimento que seja capaz de nos permitir sentir inteiras e não mais essa metade carente, que precisa demais do outro. Tratar de ser feliz por sentir o desapego de fato, sem essa de viver tentando mascarar sentimento. Sem morte à cada check-in do cara na balada. Sem publicações no facebook que, de tão diretas, dispensam marcação.

O difícil é lidar com o fato de que desapego, infelizmente, só vem com o tempo. Desapego não se impõe, ele meio que brota. Antes mesmo que a gente perceba, lá esta ele, tornando tudo mais fácil. Junto das ligações que não chegam, vai ficando a lembrança da voz. Junto das promessas não cumpridas fica a memória da confiança quebrada. De tanto sentir, tornar banal o ciúme. Que deixa de incomodar conforme a gente percebe ser infundado: Ciúme é medo de perder, mas não se perde o que não se tem. 

E embora cada detalhe pelo caminho continue doendo até que o desapego venha, a gente sabe intimamente que não doerá mais. Um dia. Próxima semana talvez. Quando o apego a qualquer outra coisa preencher o vazio da mente que o desapego ao passado deixou. E bem sabemos que tem gente que se apega até a dor. Então que fique claro: Não é só amor que se cura com outro não. Dor também!