12 de junho de 2011

Descobrir amor.


Depois de se desarmar, não esperar e já quase não crer, veio alguém... A pessoa, O amor.
Esse alguém é doce nas horas certas, sério no momento apropriado, não reclama dos ruídos que são feitos durante a noite e gosta das melhores músicas do mundo. Esse alguém escuta o choro e não reclama, sabe dos defeitos e os aceita, sabe do tempo necessário pra curar feridas e respeita. Esse alguém não briga por ciúme bobo, nem reclama da voz desafinada.
Esse alguém olha nos olhos e encontra esperança, força, vida. Sabe a hora certa de falar e de calar e conhece todos os gostos. Até poderia mandar flores no dia dos namorados, mas sabe que bom mesmo é chocolate, pipoca e um filme romântico. Esse alguém não precisa pedir carinho, não precisa reclamar da ausência, nem berrar palavrões por conta do descaso: recebe amor em tempo integral, mesmo que as vezes cause uma raiva imensa.
Encontrou alguém que pode até vir a trair, mas que, passado o momento de raiva, vai entender e perdoar, vai até sorrir e dizer que tudo bem, também teve uma parcela de culpa no acontecido. Encontrou alguém que a fará perder a cabeça, gritar de raiva no quarto, chorar pelos erros cometidos... Mas esse mesmo alguém dará forças para que levante da cama, lave o rosto, sacuda a poeira e saia pra viver uma noite, as amigas, o amor. Encontrou alguém que a olha com olhos de respeito, que a enxerga exatamente como ela é e ainda assim a entende, quando ninguém mais no mundo parece ser capaz. Encontrou alguém com quem pode compartilhar dúvidas, medos, sonhos, loucuras por saber que esse mesmo alguém nunca usará isso contra ela ou qualquer outra dessas armadilhas que as relações costumam pregar. Encontrou alguém pra quem pode se entregar sem medo, pra quem não precisa fingir e pra quem sabe como fazer se sentir amada, sem muito esforço, apenas um olhar e um sorriso de aprovação. Encontrou alguém e ao se olhar no espelho, olhou fundo  aqueles olhos, abriu um sorriso e pensou, feliz "ME ENCONTREI!"
Se encontrou, num dia qualquer do ano enquanto todas as outras pessoas queriam encontrar alguém sem ao menos terem se encontrado. Se encontrou quando notou que se bastava, ainda que vez ou outra fosse boa uma outra companhia. Se encontrou e descobriu que vem mantendo consigo mesma a relação mais sólida e bonita de todas, uma relação baseada no respeito e coberta de amor. Se encontrou e descobriu que agora sim, quem sabe, possa encontrar alguém a quem amar, sem se perder, sem que isso tire dela o que ela tem de melhor: esse amor bonito e merecido, que descobriu ser bom nutrir, por si mesma. Se encontrou e descobriu que relação perfeita é a que temos que manter com nós mesmos, num amor incondicional, pra saber lidar com a imperfeição de outras relações, talvez não tão duradouras, mas necessariamente mágicas.

Feliz dia dos namorados para os que se encontraram, para os que encontraram outro alguém, para os que amam e são correspondidos e para os que ainda descobrirão um amor de verdade. Que o romantismo causado nesse dia perdure por toda a relação!

10 de junho de 2011

Cor verde. Tamanho indefinido.


Encontrei uma camisa sua perdida no armário. Ainda a mesma cor e eu posso jurar ter sentido seu cheiro, mas não me permiti certificar. Medo? Não sei direito. É só que algumas coisas é melhor não arriscar, e costuma vir do cheiro àquelas cócegas no nariz que me causam água nos olhos e eu não sei bem como definir, mas alguma força não me deixou repetir o velho erro. A tortura não anda me atraindo muito, como deixou de ser com seu jeito de andar.
O inevitável é não pensar nas noites que dormi vestida naquela camisa, como também na camisa que presava pelo nosso amor, que aliás, desde o começo, vesti sozinha. Noites em que antes de dormir te imaginava chegando, com qualquer desculpa que fosse, pra dormir ao meu lado. Você não veio. Canções, histórias, pessoas, lugares, viagens, vitórias, derrotas, vidas para dividir com você e você não veio, nunca soube do que eu tinha para lhe dar, nunca saberá. E não fosse a chuva que caiu por várias noites e o sol que insistiu em nascer tantos outros dias, poderia bem dizer que por muito tempo o tempo se manteve parado. Eu na espera de um alguém que já não existia, contando uma história que na verdade nunca aconteceu.
Dos e-mails que não recebi, das mensagens que não me chegaram, das ligações que não tinham sua voz o que ficou foi a mágoa de saber da saudade que você não sentiu. Tanto amor do outro lado da cidade e você dormindo sozinho, me fazendo passar frio, não correspondendo nenhuma das expectativas que criei. E lhe culpo, de cabeça erguida, pois quis apenas o que você tinha dito poder me dar. Seu egoísmo imenso movendo duas vidas: uma de conformismo e a outra de solidão. Enquanto você recebia um coração, dado de bom grado, eu queria ter recebido um sonho em troca, alguns beijos talvez... Mas nada! Só algumas palavras sem muito valor. Posso jurar ter visto alguma verdade nos teus olhos, mas também essa é outra das coisas que não poderei me certificar. 
Lembro-me de ter passado noites focada em avaliações dos seus risos, jeitos, gestos, vozes, toques ou qualquer outra coisa que eu possa ter deixado passar despercebida, alguma coisa que me respondesse todas as perguntas que ficaram e que você nunca voltou para responder. Não encontrei resposta alguma, aliás, só me lotei de mais dúvidas e algumas certezas errantes de que não podia ter sido mentira. Nada que realmente justificasse as mentiras que contei, repetidas vezes, para mim mesma enquanto tentava me convencer de que algo, seja lá o que fosse aquilo que existia entre nós, ainda valia a pena. Acabou que não deu em nada, a verdade tem essa coisa de insistir em aparecer.
Enquanto quase durmo as horas passam rápido e nosso conto, na minha cabeça, se repete sem pedir licença. Anos de história relembrados de meia em meia hora que parecem um filme com prazo de validade vencido e um rótulo nítido: "Feito para não durar". Contenho o congestionamento nos olhos, contenho a dor que causa lembrar e repito, como quem nada quer, pra ver não machucar tanto quanto parece inevitável ser, que "tudo bem" porque a essa altura da vida, tudo bem mesmo! A camisa ficou no armário e as lembranças que me acompanharam até a cama só me fizeram ver que ela já não me serve, cresci demais! Assim como seu abraço, sua camisa já não me guarda, enquanto quase  tenho certeza quem em ti ela certamente ficaria folgada, mas esse deixou de ser um problema meu.
Ao escrever essa carta o coração apertou um pouco, aquele medo bobo de termos perdido a chance das nossas vidas, besteira minha! E com a certeza de que assim foi melhor pra mim, penso em silêncio, já quase cantando: "Mas coração, se preocupe não, algumas coisas não são para ser".

3 de junho de 2011

Do que vai, do que fica

Não é auto-ajuda. Gosto de conselhos, mas na maioria das vezes eles me cansam. Não é nem conselho, não é! É só esse medo de ver a vida passar e se dar conta tarde demais que já não há muito o que fazer, porque parece sempre tão cedo e quando, por um instante, começa a parecer tarde, bota-se um riso falso no rosto e veste-se a melhor roupa: Vida que segue, disse um dia um poeta. Vida que segue sozinha muitas das vezes e embora a gente grite o quanto é boa liberdade, porque realmente é - até que não se chegue em casa e se veja só, é bom ser livre! a vontade é de se sentir segura. Não em pé num salto quinze na boite mais badalada da cidade, mas nos braços de alguém que faça valer a pena um abraço.
E a gente continua repetindo que ainda tem tempo, que ainda é cedo, que amanhã é outro dia, que o tempo vai curar... E a gente nem sabe quanto tempo ainda tem. E isso aqui não é falta de pensamento positivo não, pelo contrário. É só que nós temos a mania de achar que nunca vai acontecer com a gente: prender o dedo na porta do carro, ser atingido pela água de uma poça na rua, se apaixonar ao tentar pegar o caderno no chão que um desorientado derrubou, perder um amigo de forma trágica, não ter amanhã... Tanto nas coisas mais impossíveis quanto nas coisas que nós sabemos que cedo ou tarde acontecerão, a gente tem essa mania de evitar pensar. E não culpo, pensar nisso o tempo inteiro é realmente enlouquecedor. Mas há sempre um equilíbrio, foi o que me disseram um dia e eu, olha que boba, tenho essa coisa de acreditar em palavras. 
Viver é esse constante risco de morrer e ainda assim dói tanto afirmar isso porque viver é bom, mesmo com todos esses passos descalços no asfalto que vez ou outra nos vemos obrigados a dar. Viver é bom mesmo perdendo amores aqui e ali, sem se encontrar. Viver é bom mesmo fazendo da cara uma espécie de armadura, à ferro, que é pra proteger o coração. E ainda com a certeza  de que viver é bom, guardada nesse medo de morrer, olha eu aqui rainha de reclamar do que, embora eu ainda não saiba, há de ser bom um dia. Vivo de atropelar ciclos pelos motivos errados, sem nem imaginar que não estou mais que atropelando a mim mesma. Não é fácil, também ninguém disse que seria, talvez haja uma forma mais serena de encarar as coisas, só que eu e minha constante intensidade ainda não descobrimos.
O que é acontece é que vez ou outra vem um medo de não dar tempo falar às pessoas o quanto elas importam. Vem o medo de não estar presente nas realizações de pessoas que contam tanto. Vem o medo de não estar mais aqui quando um grande amigo precisar de um abraço, quando não houver mais esperanças e for a hora de alguém falar: "Estou aqui!".
E então, olhando pra trás, é tanta vida que passou: gente que foi, gente que ficou, gente que você nem lembra, gente que mesmo longe você não esquece. E a vida seguindo seu curso natural enquanto você quer com todas as forças ser feliz, mas não tem certeza se está fazendo a coisa certa. Existe mesmo coisa certa a se fazer?
E você só sabe que amou, que conheceu umas pessoas, que sentirá umas saudades e que quer muito mesmo ter tempo suficiente pra ser um dia, em breve, capaz de preencher os espaços vazios de alguém que se dedicará a preencher os seus, porque deve ser mesmo muito triste partir e não descobrir a sensação de ser completo sem ser sozinho.