23 de fevereiro de 2014

Do que eu não sei descrever.



Não sou boa no quesito falar de felicidade. Nunca fui. Quem acompanha sabe: dor de cotovelo, dramas, saudade. Tudo vira pauta para várias linhas, menos a felicidade. Vez ou outra ensaio linhas bem humoradas ou palavras de empolgação. Nunca chegaram a me dizer que estava ruim, mas eu mesma sempre tive a impressão de que não convencia.

Uma vez fui questionada por uma grande amiga sobre o assunto. Ela, muito próxima da minha pessoa, acabara por perceber que eu normalmente brincava de escrever quando as coisas por aqui não estavam tão bem. Eu nunca neguei que sou dada aos dramas, de certa forma isso sempre foi o natural para mim. Mas foi difícil admitir que eu não sabia lidar com a felicidade. Ao menos não quando se trata de falar da mesma.


Foi então que me veio à cabeça umas palavras que leio desde muito cedo, e que não sei à quem pertencem, mas falam algo sobre como as pessoas realmente felizes não sentem necessidade de demonstrar isso. E que verdade! Porque, na boa, quando eu tô muito feliz me pego publicando a música mais sofrida da já amiga íntima, Adriana Calcanhotto. De alguma forma, que não sei explicar e nem consigo entender, não faço questão de me mostrar feliz. Não quando eu realmente e naturalmente estou. Quem está perto percebe, é claro. Sou espontânea demais pra conseguir esconder felicidade. Mas a impressão que tenho é de que quem está longe não precisa ouvir o barulho que minha felicidade costuma fazer.


Talvez isso explique o porque de eu ter parado de brincar de escrever. É difícil escrever sobre dramas quando vai tudo tão bem... Nem mesmo as histórias das minhas amigas ficam mais a mesma coisa. Parece que falta uma pontinha de dor real, que só consigo repassar quando ela é, de fato, real por aqui. E então percebo que o meu sonho de um dia escrever um livro, caso eu seja uma pessoa realmente feliz, está fadado ao fracasso. E eu poderia ficar triste por isso, mas tudo bem, eu sobrevivo. Enquanto Marian Keyes conseguir escrever, eu sobrevivo.


Hoje eu tentei romper essa barreira. Na verdade, tem uma semana que venho tentando. Fico alguns trinta minutos olhando pra tela do computador quando, tenho de admitir, nada vem e eu desisto. Começo e as palavras perdem o rumo. Findo algumas linhas, mas ao reler parece tudo tão chato. Nem Lana Del Rey tem me ajudado. Nem Los Hermanos tem surtido efeito. E então eu preciso aceitar que não, eu não sei falar da felicidade.


Eu sei sentir. E cantar. E até beber a felicidade. Mas falar, não dá. Não tem como explicar essa sensação de bem estar causada por uma boa noite de sono, sem horas perdidas revirando-se na cama com ensaios dramáticos de uma cena que jamais acontecerá na vida real. Não tem palavra que traduza essa paz, o sorriso fácil, a vontade de viver. Definitivamente, não dá! Eu desisto, não tenho vocação nenhuma pra falar da felicidade.


E depois de admitir isso para mim mesma, tento encontrar o motivo. Não encontro, é a verdade. Mas deve ser o fato de não achar justo dividir uma coisa tão boa e tão minha, assim, com todo mundo (principalmente com quem torce pelo contrário). Dor a gente divide porque alivia, acalma. Mas felicidade a gente quer é que pulse, e dure, e intensifique. Tudo dentro da gente, permanentemente. 


Então deixo aqui o meu mais sincero pedido de desculpas. Durante esse tempo ausente eu estive lendo bons livros, errando sem medo, enfiando o pé na jaca. Viajei para lugares que sempre tive vontade de conhecer. Conheci pessoas impagáveis. Arranjei um emprego (lê-se estágio), do qual eu realmente gosto. Engordei vários quilos com gosto de brigadeiro e sanduíche com porção extra de queijo cheddar. E não, eu não sinto nenhum tipo de culpa por isso. 

Desculpa, mas como eu ia escrever sobre isso sem parecer a pessoa mais egoísta do mundo, principalmente por não me achar nada egoísta? Desculpa mesmo. Mas se serve pra alguma coisa, eu realmente recomendo. Muito! Pra todo mundo. 

"O mundo é bão, Sebastião!", canta a voz doce de Nando Reis. E não é que é mesmo? E tem valido muito à pena!

10 de fevereiro de 2014

Uma quase confusão.


O amor é muito mais que palavras, ele havia me dito. E eu, ainda insegura, sorri sem graça, sem saber bem o que aquilo queria dizer. Quer dizer, eu já amei um dia, disso eu sabia, mas não estava pronta para falar sobre o quanto aquilo havia me machucado. Não estava pronta para falar de amor com alguém que eu ainda pouco conhecia. Mudei de assunto rápido e deixei que ele pensasse qualquer coisa sobre mim, que não fosse o que sou de verdade. Naquele momento não queria ser eu mesma, só queria estar ali e esquecer todo o resto.

Nos vimos poucas vezes depois disso. Trocamos poucas palavras. Tive vontade de voltar e falar sobre como o amor já fez morada por aqui. Mas falar de amor é tão difícil. Desisti! E então tive que procurar em mim o que ainda tenho daquele amor que um dia senti. Alguém, outra vez na vida, me fez procurar por mim mesma, depois de tanto tempo, daquela forma diferente que só o amor nos enxerga. Me fez voltar ao sentimento que eu mais admiro, com o qual pensei já nem combinar.

De fato, não estou pronta para o amor. Não mais. É que doação envolve muito mais que estar perto. E eu quero estar perto, mas me doar é arriscado, então eu me aproximo e, ainda assim, estou distante. E amor é, antes de mais nada, doação. Isso eu não esqueci. Acho que essa é uma das coisas que, depois de vivida uma vez, não se esquece nunca.

Eu não tenho medo, que fique claro. Correr riscos é rotina por aqui. Eu só não estou inteira ainda. Sabe aquela história de paz consigo mesmo? Pois é, preciso viver mais disso. Preciso continuar mansa aqui dentro. Meu coração anda meio cansado de furacões, embora a gente saiba que ele adore uma boa adrenalina. Vez ou outra ele reclama, não perde essa mania. Mas depois, quando percebe o quanto tem nos feito bem, acaba agradecendo. Calmaria tem sido lema, e amor calmo é difícil, exige tempo e força de vontade, exige vidas comungando em paz. Equilíbrio à dois, nos dias de hoje, é ouro. Não estou pronta para construir. Não agora.

Talvez tenha sido melhor assim. Imagina ele me ouvindo falar de como são intensos os sentimentos por aqui. Correria com certeza, como as pessoas normais fazem quando encontram exagerados como eu. E não poderia culpá-lo, me conheço bem, os perigos aqui são grandes, tais quais costumam ser os dramas. É melhor deixar assim e não envolver mais ninguém nisso.

De qualquer forma quero encontrá-lo outra vez. Conversar sobre o amor, quem sabe. E talvez dizer que pode ser seguro, pode ser calmo e intenso. Pode ser realidade e sonho confundidos. Porque o que sei do amor não é tanto, mas certamente é muito disso.