15 de junho de 2016

Liberté

Imagem retirada da página http://trechosdelivros.com/literature-is-freedom/

Em um único dia tranquei tudo. 
Fechei portas e janelas. Passei o ferrolho, travei o cadeado. 
Alma e coração, enfim bem guardados.

Não, eu não estou fugindo. Nunca consegui fugir de nada e isso acabou se tornando um grande problema. 
Eu continuava de pé, recebendo. Fosse chuva, sol, ventania: eu continuava lá, pronta pra encarar.
Raras foram as vezes em que desfrutei de leves brisas. Pouquíssimos os momentos em que meu coração sentiu que podia, de verdade, repousar.

Só que agora eu precisei me guardar. 
Tudo em mim pedia, exigia até! 
E preciso admitir que fiz isso à contra gosto, pois eu realmente me sentia capaz de suportar um pouco mais. 
Mas não, não dava mais. 

Eu precisava tirar os sapatos que machucavam meus pés, cansados demais de tanta estrada. 
Eu precisava libertar a minha alma, me sentir livre, respirar aliviada. 
Eu não queria admitir, mas eu realmente precisava.

Agora, daqui desse lugar seguro, olho e vejo que fui muito mais forte que o que um dia imaginei ser capaz. 
Me mantive erguida mesmo diante dos maiores absurdos. 
Quando tudo em mim era cansaço, sempre encontrava formas novas de me refazer e recomeçar.
Recomecei tantas vezes que ficou difícil acreditar que um dia chegaria a algum lugar, já um pouco abalada pelo medo e insegurança. 
Besteira minha! Eu jamais deveria ter duvidado que chegaria aonde quer que eu quisesse chegar. 
Já o fiz antes e continuarei fazendo, mesmo que já sem coragem pra correr tantos riscos.

Eu podia ter continuado onde estava e tentado outra vez. Podia ser. Mas isso me faria fraca. 
Sim, fraca!
Quando não reconhecemos a hora de parar, acabamos nos cansando à toa.
É um sinal de que perdemos um pouco do nosso amor próprio e deixamos que o orgulho (tolo) nos domine. 
E eu não queria ser essa pessoa. 

Eu não queria que sentissem pena de mim. 
Eu não queria mais ser o tipo de pessoa que vai até as últimas consequências, que não sabe a hora de parar e erra a mão na fé cega. 
Eu não podia me permitir ser essa pessoa, chegar a esse ponto.

Por isso eu me fechei. 
Por isso estou fechada. 
E quando me permito abrir uma janela, é só palavras o que saem. 
Meu coração, cansado, se recolhe em um cantinho e diz que quer deixar o sol pra outra hora. 
Minha alma, depois de tanto tempo de uma falsa liberdade, só consegue soltar suspiros de quem pôde, enfim, voltar a sonhar seus próprios sonhos.

E ao ver as palavras fugindo pela janela... quanta felicidade! 
Essa é a maior prova de que dentro de mim, fechada pra balanço, eu vivo meu momento de maior liberdade.