17 de novembro de 2009

O celular chamado encontra-se fora da área de cobertura.


Quando você, casualmente, bisbilhotou sua antiga agenda e encontrou perdido por lá o número do celular da sua ex-namorada que sempre te ouvia dizer adeus e continuava a te esperar, aposto que se arrependeu. Tenho certeza que se lembrou das vezes que jurei amor eterno e por isso acabou me ligando.
Eu quase aceitei seu convite pra jantar. Não nego, sua voz inesperada me desmontou inteira. Mesmo alguns anos depois, fui capaz de lembrar o quanto era bom beijar você. Perigo! Não deveriam ser esses os motivos para eu querer te rever. Eu deveria estar interessada em saber do que você viveu sem mim, do que eu perdi, do que eu não fiz parte na sua vida. Mas, sinceramente, não me agradaria ouvir com quantas garotas você se deitou ou quais delas te amaram mais e melhor que eu. Eu não faço bem o papel de ex-namorada que pousa de amiga e se sente bem. Eu não sou sua amiga. Enfim, fosse pra te ouvir ou beijar, ou quem sabe nenhum dos dois e apenas ficar te olhando com a mesma cara de idiota que te vi parti, eu quase cedi e fui te encontrar.
Mas recobrei os sentidos. Enquanto você destilava desculpas pra não mais ter me procurado e também para ter me procurado agora, lembrei das desculpas que você usou pra me deixar. Enquanto eu te falava que a vida ia bem, lembrei do quanto fiquei mal todas as vezes que você quase saiu da minha vida e mais ainda de todas as vezes que você decidiu voltar e me confundiu, sempre mais. Enquanto você dizia que tinha muito do seu novo emprego que eu ia gostar de saber, passou como um filme pela minha cabeça as oportunidades que abandonei por você. E a cada minuto que a ligação contava, somavam-se também as lembranças de cada uma das vezes que você me fez chorar.
Eu não estou bem-resolvida e, aposto que, me conhecendo como só você conhece, certamente notou isso. Talvez tivesse usado isso a seu favor e me convencido, se enquanto você citava o nome dos lugares e pessoas que conheceu não tivesse me lembrando dos lugares e pessoas que perdi a chance de conhecer, só para mais uma vez tentar (ruinosamente) tê-lo de volta. Eu teria aceitado seu convite e pousado de mulher decidida e segura, mas você sabe que nunca fui nenhum dos dois e certamente eu não saberia fingir, então ao lembrar-me de todas as vezes que duvidou de mim e de tantas mais que me disse 'acabou' (sempre voltando atrás quando queria se divertir), lembrei que acabaria cedendo se te visse outra vez, como fora sempre em tempos atrás.
Muita coisa mudou em você, eu sou quase a mesma. Só que agora não uso mais salto-alto e deixei de escrever (até hoje) textos baratos direcionados a você e que você nunca leu. Mas mesmo não tendo mudado muita coisa, acabei fazendo revolução dentro de mim. Não deixei de ser dramática, mas acabei encontrando alguém que não reclame disso em mim e ao lembrar todas as vezes que voltei de festas chorando por sua causa, por algo em mim que você passara a noite reclamando, notei que apenas eu me enganava, enquanto você sempre soube que nós dois não nos levaria a nada. E dessa vez não seria diferente, assim como não diferente de antes, você também sabia.
Você quis prolongar a conversa e eu até teria aceitado, não fosse olhar pra foto na cabeceira da minha cama e lembrar alguém que toda noite diz que me ama antes de dormir. Talvez, não fosse o meu primeiro pedaço de bolo que esperou uma semana por você naquele ano inesquecível, eu tivesse esquecido a forma como você disse que não me amava mais. Mas o bolo eu acabei doando a outra pessoa, coisa que acabei fazendo com meu coração também. Então no fim da ligação sua voz do outro lado já quase tremia:

"E aí, vamos?"

Mas ir pra onde? Já fazia tanto tempo, que não existia mais qualquer lugar seguro que pudesse abrigar nós dois. Como quando você disse que não me amava mais e eu não sabia para onde correr. E eu não quero pensar como teria sido se eu tivesse aceitado o teu convite e mais uma vez tentado o nosso tão sonhado e agora impossível final feliz. Depois de tanto tempo e de ter me entregue a tantas pessoas, a única coisa certa que me restou foi não ter sido feita pra você. Meus defeitos você escancarava e as qualidades você tinha o dom de criticar, pra quê reencontrar você se quando eu começasse a contar do que eu vivi você sentiria sono e diria que já está tarde, enquanto eu havia passado a noite toda me entregando a você e aos grandes acontecidos por você vividos nesse nosso tempo separados? Eu sempre te cansei. E longe de você, embora eu saiba que você ache isso impossível, eu tive minhas próprias aventuras e já não vejo mais nada de interessante em pular já sabendo ao certo onde vou acabar caindo. Muito menos vejo graça na companhia de alguém que não gosta de me ouvir, quando eu sei que o que eu tenho pra falar é bem mais interessante que o que eu estou ouvindo. No fundo, acho que de uma certa forma, você também sempre me cansou, mas eu estava tão doentia que passava por cima disso, só pra ter um pouco mais do que eu achava ser amor e no fundo, eram migalhas.
Sua voz me desmontou sim, no começo. Mas não por sentimento antigo, como eu pensei no início e sim pela surpresa que o destino me pregara ao notar que o óbvio sempre esteve diante de mim e eu não fui capaz de enxergar até o presente momento. Você jamais havia me amado. E eu, depois de amada mais e melhor que por você, também não tinha mais amor para te oferecer. A resposta veio tão espontaneamente que eu quase não senti sair de mim:

"Foi bom ter falado com você de novo, mas eu ando muito ocupada. Um dia, quem sabe, a gente se encontre por aí, mas agora não tenho tempo pra marcar nada."

Certeza que na hora você soube que não fora bom falar com você, jamais fora bom todas as vezes que você me procurou e me deixou sozinha no fim da noite, como pretendia fazer mais uma vez. E eu tinha tempo de sobra, mas já não tinha tanta graça perder meu tempo com você. Então mais uma vez você me disse adeus, como tantas outras inúmeras vezes que o fez e me fez chorar. Eu não chorei, não quis te pedir que ficasse. Não quis pedir mais da tua voz. Desliguei e ativei o desvio de chamada. Se um dia houver uma próxima vez e você por falta de opção, ou saudade e até quem sabe, arrependimento, decidir me ligar, você só ouvirá minha voz dizer na gravação da caixa postal:

"Devo estar ocupada, destrambelhada ou quem sabe tenha só esquecido o celular desligado em algum lugar, sempre faço isso. Deixa um recado! Amor se for você, eu te amo! Não fique bravo comigo, ok?"

Talvez nesse momento seja minha voz que te desmonte ao pela primeira vez na vida me ouvir dizer que amo alguém e perceber que esse alguém não é você.

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