17 de julho de 2009

Sushi - Marian Keyes

O primeiro beijo foi frenético, um choque de dentes contra dentes. Tentando fazer coisas demais de uma só vez, ele puxou os cabelos dela, puxou seu Spencer, beijou-a com força excessiva e, logo em seguida, arrancou a própria camisa.
- Peraí, peraí, peraí. - Parecendo exausto, encostou as costas nuas na porta.
- Que foi? - murmurou ela, embotada à vista de seu peito musculoso e brunido.
- Vamos começar de novo. - Ele a puxou contra si com toda a delicadeza. Ela escondeu o rosto em seu peito. O cheiro especial de Oliver. Até então esquecido, mas logo relembrado por seu olfato com um impacto estupidificante, imperioso. Apimentado, a um tempo doce e picante, colônia ou roupa. Um cheiro que era simplesmente ele.
A sensação de familiaridade trouxe-lhe lágrimas aos olhos.
Com uma fragilidade intolerável, ele depôs um beijo no canto de sua boca. Como se fosse pela primeira vez. Em seguida, outro beijo, enquanto roçava o nariz em sua face. E mais outro. Avançando lentamente para o centro, criando um prazer que era quase indistinguível de dor.
Sem se mover, quase sem respirar, ela o deixava aplicar seus beijos.
Os momentos em que fazia sexo com Oliver eram os únicos na vida de Lisa em que ela fazia o papel passivo. Quando não estava no controle, quando não era uma ave de rapina, hiperativa ou voraz. Sempre deixava que ele assumisse o comando, ele adorava isso.
- Olhos nos olhos e você nem está neles - ele costumava observar. - É só uma menina frágil e indefesa.
Ela sabia que o excitava o contraste entre sua rebeldia habitual e tamanha passividade sexual, mas não era esse o motivo que a levava a adotar tal postura. Com Oliver, não era preciso assumir o comando da situação. Ele sabia exatamente o que fazer. E ninguém fazia melhor.
Os beijos passaram da boca para o pescoço e a raiz dos cabelos. Com os olhos fechados, ela gemia de prazer. Poderia morrer agora - sim, poderia, sem a menor dúvida. Ela o ouvia sussurrar, o hálito quente em seu ouvido:
- Já não é mais você, paixão.
Como uma sonâmbula, deixou-se conduzir para a cama. Estendeu os braços obedientemente para que ele despisse seu Spencer, em seguida alteou os quadris para que puxasse sua saia. Os lençóis lisos e frescos estenderam-se sob a pele nua de suas costas. Todo o seu corpo tremia, mas ela se manteve como estava, deitada, imóvel. Quando ele roçou seu mamilo com a boca, ela teve um sobressalto, como se levasse um choque elétrico. Como podia ter esquecido o quanto era sensacional?
Os beijos foram descendo cada vez mais. Ele depôs um beijo levíssimo sobre seu ventre, tão suave que mal arrepiou a penugem, mas que a deixou à beira de um orgasmo.
- Oliver, acho que vou...
- Peraí!
O preservativo foi a nota destoante da noite, o único detalhe a relembrá-la de que as coisas não eram mais como antigamente. Mas recusou-se a pensar nisso. Com que então, ele provavelmente andava dormindo com outras mulheres? Pois bem, ela também andava dormindo com outros homens.
Quando ele a penetrou, ela experimentou uma grande sensação de paz. Soltou um longo e sincero suspiro, toda a tensão abandonando seu corpo. Por um momento fruiu a ausência de agitação, até que ele se pôs a avançar dentro dela com golpes compridos e lentos. Ela pretendia desfrutar isso. E sabia que iria.
Quando terminaram, ela chorou.
- Por que você está chorando, meu amor? - Ele a aconchegou em seus braços.
- É só uma reação fisiológica - disse ela, já recobrando o controle de quem realmente era. Bastava de passividade. - É comum as pessoas chorarem depois do orgasmo.
A raiva e o constragimento iniciais haviam sido incinerados pela paixão. Agora jaziam na cama, conversando sem pressa, aninhados nos braços um do outro, com um afeto estranhamento confortável. Era como se jamais houvessem se separado, jamais houvessem discutido ferozmente, jamais houvessem se lembrando um do outro com ressentimento. Não que qualquer um dos dois tivesse a ingenuidade de achar que o sexo indicava uma iminente reconciliação. Mesmo nos piores momentos de sua crise, haviam feito sexo. Parecera proporcionar-lhes uma válvula de escape para todo aquele excesso de emoção.
Alheia, ela passou as mãos pela ondulação de seu bíceps.
- Ainda malha, pelo visto. Quantos peitorais faz hoje em dia?
- Cento e trinta.
- Caramba!
A conversa ainda se prolongou por horas depois da meia-noite, até que, por fim, ele bocejou.
- Vamos dormir, paixão.
- Tá - disse ela, sonolenta. Não havia dúvidas de que ela iria embora, ambos sabiam disso. - Vou só dar um pulo no banheiro.
Depois de lavar o rosto, usou a escova de dentes dele. Foi algo que fez sem pensar, e foi só quando terminou que se deu conta disso.
Quando voltou do banheiro, enfiou os pés frios entre as coxas dele para aquecê-los, como sempre fizera. Então dormiram como haviam dormido quase todas as noites durante quatro anos, aconchegados na posição das colherinhas: ela enroscada num C, ele enroscado num C ainda maior por trás dela, envolvendo-a dos pés à cabeça, a palma da mão quente pousada sobre sua barriga.
- Boa-noite.
- Boa-noite.
N escuridão, Oliver comentou:
- Que coisa mais esquisita. - Ela sentiu o sofrimento e a confusão em sua voz. - Estou tendo um caso com a minha própria mulher.
Ela fechou os olhos, comprimindo a coluna contra a barriga dele. A tensão mantinha seus dentes permanentemente trincados foi cedendo aos poucos, até finalmente passar. Ela dormiu melhor do que dormia há muito tempo, muito tempo.


Extraído do Livro Sushi, capítulo 40 da autora Marian Keyes.

Nenhum comentário: