6 de março de 2012

Regras ao contrário.



E quem é que não quer a fórmula? Revistas ensinam, textos explicam, amigas aconselham. Duma hora pra outro o estranho no bar vira teu melhor amigo, desde que seja capaz de te dizer o que fazer pra conquistar o cara. E você reconta a história mil vezes, com um detalhe à mais aqui, outro à menos ali, muito raramente como de fato as coisas aconteceram. E escuta atenciosamento os conselhos das amigas que, mesmo solteiras, sabem como conquistar um namorado. E você se pergunta o que fez de errado, todas as vezes, quando parecia fazer tudo certo ou, ao menos, o que todos diziam ser o certo.
Primeiro disseram que devemos correr atrás daquilo que queremos e você, como boa ouvinte que é, foi à luta, mas não venceu. Depois disseram que você não deveria atender quando ele ligasse e você, quase matando a si mesma, não atendeu... O celular, é claro, parou de tocar e você agradeceu, porque mais um pouco e você cometeria o pecado de cair em tentação. Outro dia ouviu que o certo era atender depois de um determinado número  de vezes que o telefone tocasse e você até tentou seguir esse conselho, mas todas as vezes o telefone parou de tocar exatamente um número antes, até que não voltou mais a tocar... E escuta as amigas dizerem que não foi culpa sua, que o cara era um babaca, que a pessoa especial estar por vir, e nós sabemos que está mesmo. Então o que te resta é torcer para que ao invés de te ligar, ela venha até sua casa e torne tudo menos complexo.
As pessoas botaram na cabeça que existe um sistema, normas, regras para a paixão. Como se vontade de ligar tivesse hora marcada, como se ouvir o celular tocar não nos causasse felicidade instantânea. Queria mesmo era o número do terapeuta ou o nome do livro de auto-ajuda que foi capaz de fazer alguém agir com tamanha indiferença diante desse frio enorme na barriga que a gente sente toda vez que vai encontrar com alguém especial. Comigo nunca deu muito certo e eu sempre acabo deixando o sorriso transparecer o que, para as regras, só pode ser mostrado quando o cara passa a comer nas nossas mãos. Como se a gente quisesse bixinho de estimação, quando tudo o que a gente quer é uma boa companhia.
O cara não te atender uma vez não faz com que ele esteja fugindo de você. Algumas pessoas realmente tomam banho, realmente dormem, realmente comem... ah é, ele deveria ter te ligado de volta já que é impossível a pessoa ficar sem créditos no celular, afinal isso é um filme, ou novela, ou conto de fadas... Quando é que vão entender que nem todas as pessoas são iguais? Não que você vá ligar 20 vezes por dia. Mas ligar pra saber como a outra pessoa está ainda não é nenhum crime e não, ele não te achará fácil! Pelo menos não se ele estiver realmente curtindo você. E sinceridade, querida, são outros quinhentos.
Legal mesmo vai ser quando ligar não pareça desespero, mas sim leveza. Quando sentir saudade não for pecado. Quando querer ver não for um absurdo. Legal mesmo vai ser quando a gente puder ser quem a gente é de verdade. Porque poxa, é por mim que eu quero que a pessoa se apaixone e não por alguém criado pra agradar alguém que eu ainda nem sei se será agradável para mim. Legal vai ser quando as pessoas pararem de comparar seus relacionamentos com os dos outros e entenderem que paixão não vem com fórmula. Vem com loucura, com sinceridade. E então, quem sabe, a gente perceba que tem alguém do outro lado que quer receber carinho também. Que quer saber que também é lembrado, que quer saber que não sentiu saudade sozinho. Eu, pelo menos, pretendo me apaixonar por alguém de verdade e não por um personagem.

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