2 de outubro de 2012

Vida longa ao desapego!

Difícil é não querer. De verdade. Bem além do orgulho besta e da vontade de seguir em frente. Bater o pé, erguer a cabeça e apagar. Se não da memória, mas da vida. E ao invés de tentar provar isso pro mundo, apenas fazê-lo por si mesmo, por saber que não querer vai doer bem menos que continuar querendo. Por ter pra si que já não faz bem e, diante disso, é melhor desfazer.

Desapego é o nome. E o sonho de consumo de muitos. Um botão que simplesmente nos desprenda de um sorriso e da voz mais tentadora do mundo. A receita pro sucesso da vida, o remédio pros buracos adquiridos pelo coração. Quem não quer? Jogar fora o que não serve. Apagar o que não faz mais sentido. Deixar pra lá o que tem mesmo de ficar é no passado. Caminhar sem sombra dos antigos passos ao lado. Sem saudade deles. Sem vontade de tê-los de volta.

Não apenas não ligar, como não atender caso o telefone venha a tocar. Não querer saber da vida do outro por estar ocupado demais vivendo feliz a sua própria. Não querer atingir por não ser mais de interesse. E deixar de ser o alvo fácil dos domingos de solidão, quando o futebol não preenche e os amigos estão ocupados demais pra uma cervejinha. Dizer "NÃO!" e ser de verdade, com voz firme e convicção única. Sem arrependimento algum, sem esperar que esse comportamento gere uma nova oportunidade.

Tratar de ser feliz de dentro pra fora, e não o contrário. Feliz de não sofrer pelo celular que não toca. Feliz por não sentir ciúme, medo, culpa. Feliz por não ver a vida girar em torno de uma outra, que não tem a mínima vontade de correr ao lado. Qualquer desprendimento que seja capaz de nos permitir sentir inteiras e não mais essa metade carente, que precisa demais do outro. Tratar de ser feliz por sentir o desapego de fato, sem essa de viver tentando mascarar sentimento. Sem morte à cada check-in do cara na balada. Sem publicações no facebook que, de tão diretas, dispensam marcação.

O difícil é lidar com o fato de que desapego, infelizmente, só vem com o tempo. Desapego não se impõe, ele meio que brota. Antes mesmo que a gente perceba, lá esta ele, tornando tudo mais fácil. Junto das ligações que não chegam, vai ficando a lembrança da voz. Junto das promessas não cumpridas fica a memória da confiança quebrada. De tanto sentir, tornar banal o ciúme. Que deixa de incomodar conforme a gente percebe ser infundado: Ciúme é medo de perder, mas não se perde o que não se tem. 

E embora cada detalhe pelo caminho continue doendo até que o desapego venha, a gente sabe intimamente que não doerá mais. Um dia. Próxima semana talvez. Quando o apego a qualquer outra coisa preencher o vazio da mente que o desapego ao passado deixou. E bem sabemos que tem gente que se apega até a dor. Então que fique claro: Não é só amor que se cura com outro não. Dor também!

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