Mãos molhadas, olhos secos, coração acelerado.

E, quem jurava que naquela sala escura nada teria se não escuridão, enganou-se. Na verdade o termo a ser usado é: enganei-me!
Afinal, salas escuras e solitárias no fim, não são tão solitárias assim! Descoberto isso, tornam-se até mais claras, amplas, acolhedoras e era disso que eu precisava.
Havia medo em meus olhos, qualquer pessoa poderia notá-lo, percepção feminina é a pior coisa do mundo, ainda bem que naquele momento isso era algo com o que eu não lidaria.
Sentei-me lá. Os olhos rasos. Senti a cócega por detrás do nariz quando a gente sabe que não vai segurar as lágrimas. Ele me olhava perfurando a alma, tentando entender o olhar, querendo uma forma de acalmar meu coração. Na hora desesperei-me por ser tão mal e colocá-lo naquela saia justa. Ele ligação nenhuma tinha com minhas frustrações e não precisa fazer suas costas pesarem com elas, mas é algo que não controlo, preciso emanar sentimento para todos os lados, dividir dor e sorriso com qualquer pessoa que tente se aproximar, deveria ter um aviso em minha testa escrito: "Se não quer enlouquecer de sentimentalismo, mantenha distância", mas no fundo eu sei, ainda que tivessem essas palavras em minha testa, ele não teria mantido distância nenhuma, apenas teria vindo mais prevenido.
Como o aviso não foi dado, ali estava ele, louco para perguntar o que me acontecia, mas ele não o faria, ele respeita o meu tempo, meu silêncio, minha necessidade. Ele sabia que quando fosse a hora eu falaria, restaria à ele apenas me ouvir.
Naquele momento eu tinha de fazer uma escolha, a escolha que poderia desencadear todo o resto dessa história ou o fim dela.
Ele me olhava, esperava por respostas, mas mais que isso, ele esperava por mim, por completa. Ali, olhando nos olhos dele, eu tinha de escolher: Tocar de novo no assunto que mais me dói no mundo, despejar sobre ele toda a dor que eu tinha no peito e vê-lo mais uma fez fazer o papel de amigo fiel que sempre me diz o que eu preciso ouvir, mesmo sabendo que não era bem isso que ele queria, ou...
Ou, olhar nos olhos dele, ver a mágica que ele queria proporcionar-me, ver dentro dos olhos dele a necessidade que ele tem de me fazer feliz e usar isso da forma certa, sem palavras longas ou doídas, uma frase pequena, uma ação correta. Eu tinha em minhas mãos a chance de mudar a minha vida.
Baixei a cabeça com vergonha, tive medo de que ele pudesse ouvir meus pensamentos, ou pior, me olhando daquele jeito nos olhos ele poderia ver a dúvida, a luta cruel que eu mantinha com meu coração naquele exato minuto, tentando diferir o certo do errado, o melhor do pior. Baixando a cabeça, ouvi meu coração bater mais alto que o normal, será que ele também reparou? Precisava agir rápido, colocar os sentimentos, pensamentos e desejos nos lugares em que eles deveriam permanecer.
Eu sabia o que eu queria. Eu sabia o que doía em mim. Eu sabia como me curar.
Uma escolha pode mudar o resto da tua vida, eu fiz a minha.

Olhei dentro dos olhos dele e disse a única coisa que eu sabia, nos daria a chance de esquecer tudo até aqui, ou ao menos tudo que nos fosse conveniente esquecer:
- Eu quero tentar. Me beija?

Ele se aproximou, olhou nos meus olhos. Tocou meu rosto, se aproximou do meu ouvido esquerdo e disse: "Eu esperei muito por isso", eu senti sua respiração, eu vi o seu sorriso, de repente meu coração parecia soar como um sino ao meio-dia e ele, se o ouviu, fingiu bem não notar. Segurou meu rosto e naquele exato momento, quando toquei seus lábios me senti voar. O sabor novo, a forma nova. Tudo novo e reconfortante! Pela primeira vez na vida me senti feliz por me dar a chance de conhecer o novo. O sangue fervilhava em minha cabeça, eu queria não precisar parar nunca mais.
O quarto de repente ficou claro, cheio de vida. Eu já não queria mais nada, só deitar naquela cama e deixar que o destino fizesse o resto.

Foi o que eu fiz e foi inesquecível.