21 de outubro de 2011

Cartas. Segredos.

Sobre a saudade eu sei. E sei também do tempo que passou, cada minuto incontável e, por vezes, tão demorados. Sei das cartas que não chegaram e também de todas que escrevi, mas não mandei. Sei de algumas coisas que te aconteceram e de quase nada sobre mim. Algumas coisas não mudaram. Outras se perderam sem que algo pudesse ser feito.
Às vezes quase te ligo durante a noite, mas desisto porque sei que você falaria impaciente de um jeito que eu sempre detestei. Às vezes penso em ver você, mas ainda não sei o que te diria e então deixo pra lá. Venho deixando para lá todos os dias. Adiando qualquer coisa que eu não sei o quê, mas que certamente não faria diferença alguma.
Nossa foto empoeirada guarda sorrisos tão verdadeiros. Tem qualquer coisa bonita nisso que eu ainda não sei descrever, mas quando souber te enviarei uma carta contando, pra você ler num domingo e pensar que nem sou de todo mal assim. Sou bem do bem na verdade. Talvez você não tenha percebido e eu bem admito que só descobri isso depois que você se foi. Mas, de qualquer forma, ainda solto palavrões quando bato com o joelho no canto da cama ou de alguma cadeira por ai. Nada tão imperdoável quanto às coisas que eu fazia antes. Você pode não acreditar, mas deixei de precisar pedir desculpas com tanta frequência. Deve ser porque não tenho mais com quem brigar pra decidir quem apagará a luz.
Sei de tudo o que você detestava em mim. E mudei. Sério. Melhorei em quase tudo. Só continuo tão ou mais exagerada quanto antes, mas também quem garante que não era isso que desencadeava todo o resto? Acho que eu nunca vou saber. Pra falar a verdade, nem me interessa. Na maior parte do tempo estou mais preocupada em ler ou assistir qualquer coisa que ficar me policiando pra ser alguém melhor. Ser alguém melhor tem de ser algo natural. É o que eu acho. Mas eu também acho que você não deveria ter ido embora, então o que eu acho não deve contar muito.
No fim das contas o que eu queria era que você recebesse essa carta. Eu não vou mandá-la, a gente sabe disso. Mas eu realmente queria que você lesse qualquer uma das milhões de cartas que escrevi pra você. Não para que me mandasse uma resposta. Eu sei que você não o faria. Era só pra eu saber que você não me esqueceu. Era só pra eu saber que mesmo não fazendo falta, você continua sabendo que eu existo. Sabendo que esse sentimento existe. E ele é lindo. E verdadeiro.
Era só pra você saber que quando chove é em você que eu penso. E quando faz sol eu quero ter você comigo. Se o tempo passa eu só o sei por que conto o tempo em que não tenho você. E tem alguma coisa no teu sorriso que não me deixa te tirar da cabeça. Mas isso não é coisa que dá pra escolher. E também se pudesse eu nem sei se faria. Porque não dói, sabe? Nem mesmo por um segundo. É  bonito demais pra doer. É grande demais sentir alguém assim, independente de tempo. É mágico demais, pra alguém simplesmente me pedir pra deixar de te amar. Eu não vou. Pra lugar nenhum. Vou ficar aqui e continuar escrevendo. Vou sonhar todos os dias, sem esperar por nada. E não importa que digam que é errado. Tem tanta coisa errada no mundo que ninguém se importa em mudar. Sentimento bonito assim só pode é fazer bem. A gente sabe disso. Em cada riso dado, em cada momento juntos, em cada sonho realizado. A gente sabe disso. E só de saber que dividimos esse segredo, já sou feliz. Sem garantia nenhuma, mas com toda a esperança que só o amor é capaz de não deixar morrer.

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