3 de junho de 2011

Do que vai, do que fica

Não é auto-ajuda. Gosto de conselhos, mas na maioria das vezes eles me cansam. Não é nem conselho, não é! É só esse medo de ver a vida passar e se dar conta tarde demais que já não há muito o que fazer, porque parece sempre tão cedo e quando, por um instante, começa a parecer tarde, bota-se um riso falso no rosto e veste-se a melhor roupa: Vida que segue, disse um dia um poeta. Vida que segue sozinha muitas das vezes e embora a gente grite o quanto é boa liberdade, porque realmente é - até que não se chegue em casa e se veja só, é bom ser livre! a vontade é de se sentir segura. Não em pé num salto quinze na boite mais badalada da cidade, mas nos braços de alguém que faça valer a pena um abraço.
E a gente continua repetindo que ainda tem tempo, que ainda é cedo, que amanhã é outro dia, que o tempo vai curar... E a gente nem sabe quanto tempo ainda tem. E isso aqui não é falta de pensamento positivo não, pelo contrário. É só que nós temos a mania de achar que nunca vai acontecer com a gente: prender o dedo na porta do carro, ser atingido pela água de uma poça na rua, se apaixonar ao tentar pegar o caderno no chão que um desorientado derrubou, perder um amigo de forma trágica, não ter amanhã... Tanto nas coisas mais impossíveis quanto nas coisas que nós sabemos que cedo ou tarde acontecerão, a gente tem essa mania de evitar pensar. E não culpo, pensar nisso o tempo inteiro é realmente enlouquecedor. Mas há sempre um equilíbrio, foi o que me disseram um dia e eu, olha que boba, tenho essa coisa de acreditar em palavras. 
Viver é esse constante risco de morrer e ainda assim dói tanto afirmar isso porque viver é bom, mesmo com todos esses passos descalços no asfalto que vez ou outra nos vemos obrigados a dar. Viver é bom mesmo perdendo amores aqui e ali, sem se encontrar. Viver é bom mesmo fazendo da cara uma espécie de armadura, à ferro, que é pra proteger o coração. E ainda com a certeza  de que viver é bom, guardada nesse medo de morrer, olha eu aqui rainha de reclamar do que, embora eu ainda não saiba, há de ser bom um dia. Vivo de atropelar ciclos pelos motivos errados, sem nem imaginar que não estou mais que atropelando a mim mesma. Não é fácil, também ninguém disse que seria, talvez haja uma forma mais serena de encarar as coisas, só que eu e minha constante intensidade ainda não descobrimos.
O que é acontece é que vez ou outra vem um medo de não dar tempo falar às pessoas o quanto elas importam. Vem o medo de não estar presente nas realizações de pessoas que contam tanto. Vem o medo de não estar mais aqui quando um grande amigo precisar de um abraço, quando não houver mais esperanças e for a hora de alguém falar: "Estou aqui!".
E então, olhando pra trás, é tanta vida que passou: gente que foi, gente que ficou, gente que você nem lembra, gente que mesmo longe você não esquece. E a vida seguindo seu curso natural enquanto você quer com todas as forças ser feliz, mas não tem certeza se está fazendo a coisa certa. Existe mesmo coisa certa a se fazer?
E você só sabe que amou, que conheceu umas pessoas, que sentirá umas saudades e que quer muito mesmo ter tempo suficiente pra ser um dia, em breve, capaz de preencher os espaços vazios de alguém que se dedicará a preencher os seus, porque deve ser mesmo muito triste partir e não descobrir a sensação de ser completo sem ser sozinho.

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