21 de março de 2011

Dando fins.

Erros incalculáveis, todas as palavras fora de hora e a superlotação da caixinha onde ficavam os desabafos que ao invés de serem feitos, por maior facilidade, eram guardados. Acabou. Os sonhos, o desejo, as esperanças e até mesmo a força surreal que surgia não se sabe de onde e dava ânimo aos recomeços, mais do mesmo. Acabou tudo, perdeu o sentido, não cabia mais em lugar nenhum. E o que veio depois foi o silêncio, misto de paz e desespero, sem saber pelo que esperar.
É como andar descalço no escuro, sem saber onde pisa ou onde vai chegar, se é que se chega mesmo em algum lugar algum dia. E era esse o causador do desespero, o não saber. A gente escuta algumas pessoas dizerem que passa, escuta uns conselhos de gente que viveu o mesmo e superou, chegou num lugar bonito e que agora tem só a história pra contar, mas não dá pra ter certeza porque como pode passar algo assim, desse tamanho? Como pode ser isso simplesmente deixar de existir? Não dá pra ter certeza e no ponto em que se encontra também não se tem escolha, as tão sonhadas opções, é andar e ponto - sem saber pelo que esperar. Essa falta de expectativa, que noutra ocasião seria uma boa, por hora só consegue apavorar. Então você sente a respiração, o ar ir e voltar, segura o ar e sente o vazio. Só que por cinco segundos foi maravilhoso estar vazia, antes ar que aquele nó na garganta e o peso desmedido no peito. Antes só ar que aquele sentimento que deixou de ser bonito pra ser tormento, aliado da dor. Cinco segundos de alívio, de paz. Parece pouco e é, descobriria depois, mas por hora era tudo, uma luz no escuro, a esperança de que poderia haver mais.
Depois que o ar escapa e os cinco segundos de alívio passam é preciso analisar o que ficou, jogar fora e sair em busca de mais. Mais sonhos, todos novos. Mais fé, em qualquer outra coisa que possa parecer tocável e menos difícil. Mais amor, de dentro da gente pra dentro de nós outra vez, amor próprio. Mais coisas, qualquer coisa, que ocupe o espaço que ficou.
Até chegar no que chamam de topo ainda há muito pra fazer - são gavetas a esvaziar, fotos pra apagar, memórias pra aprender a conviver e, principalmente, um vazio pra preencher. A cada reencontro com o improvável é quase possível ouvir o grito interno, porque machuca mesmo e ainda vai ser assim por um bom tempo. O cheiro traz lembrança, a cor traz lembranças, as músicas fazem lembrar. Sem contar nas fotos que surgirão do nada vez em quando e que você vai olhar até sentir os olhos encherem de lágrimas e depois esconder em qualquer canto da casa pra fingir que passou. Deixa ser, não faz vergonha não, é assim com todo mundo e depois de um tempo nem é mais preciso fingir, passa mesmo, pra tanta gente por aí já passou, vai passar pra você também. E não precisa fazer força não. Acontece quase que sem se ver, algum tempo depois, quando abrir o caderno onde escondeu aquela foto, vai olhar e, quem sabe, até sorrir - sem apertos, sem palavras que precisam ser ditas, sem lágrimas pra chorar; você quase nem acredita. E pensar que foi quase enlouquecedor...
E então é hora da redescoberta. Acabou, foi dado o fim de uma história, uma das muitas que você vai contar um dia. Hora então de redescobrir o amor, de redescobrir caminhos, redescobrir o sabor que tem dar o coração a outro alguém. E redescobrir é tão bom. Dá pra ter tudo outra vez, com alguém de um português mais correto ou, talvez, um amante da boa música, quem sabe até alguém de sotaque francês - as opções são tantas que fica até difícil decidir. Dá pra ter tudo de novo, novo de novo. Dá pra ter um começo e fazer diferente pra não ter, por um bom tempo, que lidar com o fim. Dá pra ser novo pra alguém, pra ser sorriso, ser história bonita de contar, ser o motivo do alívio de alguém que também só conhece o vazio depois de soltar o ar. Dá pra dizer que passou pra você também, que doeu porque dói mesmo, mas em compensação passa e deixa tanta lição, tanta vontade de fazer diferente, tanta força pra recomeçar com tudo novo. Espera só, vai ser assim pra você também.
Então a gente tem que entender que é assim mesmo, vida que segue. Lutar pra quê? Acabou. E é só o começo... tem tanta coisa linda que ainda há de vir...

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