23 de março de 2010

Vou. E não volto.


Estou dando adeus. Partindo. Indo embora. E dessa vez é pra sempre.
Vou por não ter melhor opção. Já não me cabe no seu jogo, já não há espaço em sua vida para alguém como eu, sempre tão espaçosa e insatisfeita com pouca atenção, pouca acomodação, pouco sentimento.
Vou por saber que é assim que você quer que seja. Embora me doa em cada pedaço da alma ter que reconhecer isso, eu já não te encanto mais. Meu mundo fantasioso, meus sonhos exagerados, meus planos e sentimentos tórridos. Nada mais em mim lhe é atrativo e não o culpo por isso. Os homens cansam fácil da mesmice e eu tenho sido a mesma todos esses anos. O mesmo cheiro, o mesmo corpo, a mesma pele e o mesmo desejo. Tão previsível quanto nosso fim, só eu não quis ver.
Não espero que você me peça pra ficar, até porque eu não o faria. Não duvido do seu amor, assim como sei que o meu, ainda que tão abalado, jamais vai acabar. Não foi amor que nos faltou, não, amor a gente tem até muito. Foi a tal da novidade, a charmosa mudança e a incrível coragem pra fazer diferente. Faltou ânimo, disposição. Nós dois sempre tão acomodados com o fato de dormirmos juntos na mesma cama durante todos esses anos, acabamos por ter preguiça de mudar a cama de lugar, por esquecer de trocar a colcha, por deixar pra comprar um colchão novo sempre depois. Um depois que nunca chegou e nem chegará.
Você achará estranho no começo, sentirá falta das conversas matinais e da companhia pra ver o telejornal, mas isso é coisa que dá pra reinventar, pra colocar alguém no lugar. Em semanas você terá resolvido esse problema e eu prometo que jamais vou lhe culpar por nada. Em pouco tempo você será novo. O homem novo que eu tanto desejei, mas que deixei pra uma também nova mulher que jamais será eu, porque não estou disposta a mudar.
Vou com pés que tentam andar pra trás, com lágrimas que anseiam pela volta, com um coração que bate mais acelerado a cada km de distância. Vou com a indecisão terrível de quem sabe que está fazendo a coisa certa pelos motivos errados. Vou com o sorriso falso de quem sabe que ficar só pioraria as coisas.
Vou com você dentro dos meus olhos, dos meus sonhos, da minha boca. Vou com tudo de você em mim, que eu não conseguirei apagar. Vou com todos os teus risos decorados, todos os teus olhos guardados, todas as tuas manias inesquecíveis.
Vou apenas por saber que outra opção nenhuma nos faria mais feliz, mesmo nos matando de tristeza por dentro. Vou por ainda te amar tanto e achar um absurdo ver você afundando no homem perfeito que eu criei pra mim. Vou e não volto. Vou com você inteiro pra minha alma, mas em farelos pras minhas mãos que não voltarão a te tocar. Vou sozinha, mesmo querendo te levar comigo.

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