10 de abril de 2012

Saudade.

Senti uma saudade súbita daquela vez em que você me ligou perguntando sobre a vida. Não sobre a minha vida. Mas sobre a vida em geral. Achei bonita a forma como você falou dos medos que vinha sentindo. De como, vez ou outra, queria compartilhar uns impulsos comigo. Me senti especial e percebi que você já virara gente grande. Queria ter dito que você fez minha vida mais bonita todo o tempo em que esteve comigo.
Tenho vontade de poder voltar pra época em que brincávamos com as palavras. Deitados sob as estrelas artificiais coladas no teto do meu quarto. Falando em rimas, repassando sentimentos, criando histórias. Aqueles eram como os momentos em que vemos nos filmes, onde as cenas passam em redemoinhos e com uma música bonita como trilha sonora. Sempre lembro como se fosse um ensaio para o que ainda viveremos juntos. Como se algo grande, ainda maior que o passado, estivesse nos esperando.
Sei que você tinha medo do que nos guardava o futuro. Lembro de como você pedia para não fazermos planos, com medo de que a vida propositalmente nos contrariasse. E sempre que eu marcava algo para a próxima semana você rezava baixinho para que ainda estivéssemos juntos quando a próxima semana chegasse. Você achava que eu nunca havia percebido, mas a verdade é que eu acabava rezando junto. No fundo sempre achei que era o melhor a fazer e admirava você por isso.
Desculpa essa minha mania de pedir pra sonhar com você antes de dormir. Sei que você deve se sentir culpado quando não consigo, e eu acabo me sentindo culpada por isso. É só que eu tenho medo de esquecer do seu rosto. Tenho medo que o tempo leve a lembranças dos teus traços mais secretos, que só eu tive a sorte de conhecer. Admito que sou sim um tanto egoísta, mas perder também nossas memórias seria como arrancar o que de mais rico me ficou de nós dois.
Espero que você entenda quando não consigo seguir em frente. Espero que esteja vendo o quanto tenho tentado ser forte e dado o melhor de mim. Espero que não fique triste quando acabo chorando escondida. Entenda que você faria o mesmo se eu o deixasse para não voltar nunca mais. Mesmo sabendo que por escolha você jamais teria me deixado sozinha dando conta de correr com minha próprias pernas, tão tortas quanto os caminhos que costumo escolher para seguir. Você adorava mostrar o quanto sabia que caminho seria melhor seguir e como você fazia questão de segui-lo comigo. Sei que não foi culpa sua. Sei que não há nada que pudéssemos fazer para evitar. Mas sei também que é ruim demais não poder ligar para você quando as coisas não dão certo. E sua voz na secretária eletrônica já cansou de repetir para mim que você não pode atender no momento. Sinto uma raiva enorme quando você diz pra eu ligar mais tarde, quando sabe que ainda não poderá me atender. Com certeza ela deve estar lotada de gravações da minha voz chorando enquanto digo que você tem que voltar. Enquanto tento me convencer de que você vai me ouvir e acabar voltando.
Não sei como são as coisas no lugar onde você está agora, mas espero que seja tão bonito quanto os momentos em que você me fez feliz. Queria poder encontrar com você o mais rápido possível e sei que você vai ficar triste ao me ouvir dizer isso, mas eu continuo sem conseguir mentir pra você. Não sei bem no que acreditar diante de tantas filosofias, mas se tem algo de que tenho certeza é de que, esteja onde estiver, você está esperando por mim, da forma paciente que sempre o fez e com aquele sorriso contrariado que virá seguido de um sonoro "Amor, porque você sempre me faz esperar?". Sei que o abraço será o mesmo e o amor, depois de tanta saudade, será ainda maior.

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