6 de junho de 2012

Como se fosse a primeira vez.


Quanto tempo passamos ensaiando um gesto? Horas frente ao espelho e um cabelo que nunca parece estar realmente bom. Um monte de conselho das amigas, feito cd emperrado, repetindo na cabeça.
Ainda não descobrimos a fórmula da perfeição e esse pecado nos persegue diariamente. Porque, não bastasse o esforço físico e mental, não há nada daquela luz no fim do túnel da qual as pessoas tanto falam e a gente, num ato desesperado, não cansa de procurar. Cada dia fica mais difícil. Cada novo cara, é um novo rumo. Cada vez mais a gente não sabe quando deve, ou não, seguir.
Palavras nunca são o que parecem. É como ver um filme ao contrário. E tudo no que querem que você acredite, é mentira. Sem o drama que a coisa toda parece ter. Numa boa: Nem bola de cristal seria capaz de ver como as coisas vão acabar. Parece que o mínimo detalhe muda tudo, qualquer palavra dita em hora errada, um soluço em meio ao silêncio e pronto - eis o caos, tudo fora do lugar.
Depois são vários dias procurando um motivo. Quê que eu fiz de tão errado? E fica bem pior quando o sorriso mais bonito do mundo decide andar junto de um outro, que não o nosso e nem tão bonito, de cima e de baixo, dando nome ao relacionamento e tudo. Nós, reles mortais decididas a esquecer, não conseguimos deixar de querer receber notícias. E jamais vamos conseguir entender o que fizemos de tão errado.
E então a gente parte pra auto-ajuda. Caio Fernando Abreu, Tati Bernardi, Martha Medeiros. Qualquer um que seja capaz de dizer que somos bonitas e que as coisas vão melhorar. E repetimos, cheias de uma crença quase real, que irão mesmo. Que não vale à pena ficar mal. Que amanhã é outro dia. Todas essas coisas que fazem a gente achar que encontrou uma força desmedida, até que chega a hora de dormir e estamos lá sonhando acordadas com alguém que não existe. Aliás, esse é nosso maior defeito: Nos apaixonamos por alguém que não existe. Alguém que, para a nossa infelicidade, só existe na nossa cabeça e que, por esse motivo, jamais será capaz de avaliar o quanto perdeu ao nos deixar sem uma razão real para isso.
E em pouco tempo, depois de alguns porres e inúmeros caras que ou beijavam mal, ou tinham namorada, damos de cara com o próximo. Que parece o primeiro. Que outra vez pedirá o número do celular e ligará no dia seguinte. Que vai levar pra jantar e aceitar ver um romance no cinema. Que vai apresentar os amigos, conhecer as amigas, tentar unir as turmas, buscar na faculdade. E que outra vez, como encanto, vai acabar sumindo. Deixando outra vez uma sensação de cansaço, uma quase desistência. Inúmeras dúvidas novinhas em folha, embora já usadas numa outra ocasião, que não fosse o sapo ter nome diferente, nos faria ter certeza de ser o mesmo filme.
E é qualquer coisa, menos burrice. Embora algumas amigas, numa crítica construtiva, venham a dizer isso. Só que não. Não é burrice, ou carência, ou desespero. É só aquele fio que chamam de esperança, que insiste em nascer em nós diariamente, enchendo a vida de algum sentido. Ainda que o espelho não mostre exatamente o que queremos ver ou que, como manda o script, exista um drama louco do meio pro fim. Outra vez vamos nós, como se fosse a primeira. Largando a armadura, adquirida dolorosamente numa batalha passada. Suspirando pelos cantos aos ouvir uma música romântica. 
Nós e o nosso incrível dom de recomeçar. Não há nada no que sejamos melhor. Não há nada que nos encoraje mais. E que bom! Que bênção. Tudo novo, de novo. O mesmo gás, a mesma fé, os mesmos anseios, mas bem menos disposição para perder tempo ou ilusionar relações. E amém por isso!

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