23 de agosto de 2011

De loucura pra viver.



Sei que deve ser uma boa companhia, deve te fazer sorrir, deve te dar carinho e trazer toda aquela calmaria que a antiga e tempestuosa presença não te deixava alcançar. Sei que você deve se sentir sortudo, sei que isso é exatamente o que você esperava. E ainda assim, veja como é a vida, você não está feliz. E não está feliz exatamente por falta de desequilíbrio. E sabe disso, mas não admiti.
A vida é como você esperava: carro, emprego, namorada. Tudo vai indo exatamente como você sempre quis: pura calmaria, na mais santa paz. E veja que contraditório: Você não está feliz porque, que loucura, anda tudo muito equilibrado, equilibrado e sem graça. Quando é pra dormir você dorme, quando é pra acordar você acorda. Hora marcada no médico e você não tem porque se atrasar. Você tem até ido à igreja, porque mesmo com carro, emprego e namorada, olha que louco!, ainda te sobra tempo nos finais de semana.
Nem uma rapidinha antes de correr pro emprego, você já não chega mais atrasado. Nenhuma briga durante a semana bem na hora do almoço, você já consegue almoçar na mais santa paz, sem celular tocando, sem estômago embrulhando de raiva, sem vontade de sair correndo pra pedir desculpas. Você almoça e até sobra tempo pra tirar um cochilo, porque é o que resta nessa vida que beira ao tédio.
E você procura uma resposta, você tenta encontrar um sentindo. É como você queria que fosse, mas não te faz feliz. Falta algo, falta o fogo, falta a movimentação. Falta exatamente aquilo que sobrava, aquilo que entupia, aquilo que parecia sufocar: Falta a desequilibrada. É isso, pimba! Falta a menina louca que ligava pra brigar por qualquer besteira, a mesma maluca que chegava de surpresa na sua casa e te levava pra um canto, te arrancava do equilíbrio do teu mundo. Falta a menina que chorava no seu lugar, falta a menina que gritava por vocês dois e tantas outras vezes, ficava em silêncio, muda, por não saber se explicar, enquanto você a olhava e não entendia porque continuava ali, quando bem sabia quão diferente vocês eram, quando parecia loucura continuar amando alguém que mais parecia uma bomba relógio preste a explodir.
E agora vem essa falta dela. Logo agora que você criou coragem e seguiu em frente, logo agora que você já quase se dá por satisfeito. Nada te satisfaz, tem te faltado algo, tem te faltado a mágica. Você sente saudades de pedir desculpas, das ligações na madruga, das imperfeições do dia-a-dia, das horas que não sobravam. Você nem podia imaginar, mas ela te completava, agora já sabe: Sem ela não tem graça, fica meio sem cor, fica nostalgia. Você vai acordar todos os dias e na cama vai tentar se convencer de que esse vazio é loucura, de que você não tem porque se sentir assim. Mas tem, exatamente por não ter o que te falta, por ter perdido a desleixada que te fazia rir da piada mais sem graça. E você já não consegue explicar mais nada, já não consegue entender também. E depois começa a se perguntar se ela também tem sentido sua falta, será que sem você ela tem ido bem? E vai continuar levando essa vida parada, até criar coragem pra admitir ser o que você realmente é: A outra metade do desequilíbrio, alguém que precisa da loucura pra viver.
Você vai acordar mais esperto, levantar da cama e faltar ao trabalho, errar o caminho e bater num antigo endereço. Daqui a pouco você não falará coisa com coisa, mas dirá o necessário, cometerá um pecado, se sentirá realizado. Daqui a pouco você voltará a ser desequilíbrio e pensará que nada mais consegue te fazer tão feliz.

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