14 de maio de 2015
Depois
E então você voltou, como secretamente desejei durante todos os últimos meses.
Eu queria mesmo que você voltasse. Eu neguei, é claro. Menti incontáveis vezes sobre o quanto eu já nem lembrava mais de você.
No fundo, naquele lugar onde ninguém pode ver, haviam muitos minutos de espera destinados a você.
Teoricamente, seria épico. Você sabe: alguns milhares de pedidos de perdão (seus), muitas lágrimas (nossas), (meu) orgulho refeito e um "Adeus!" - cheio do amor próprio que eu passei meses ensaiando. Seria digno de uma cena de novela. Você o vilão e eu mocinha que deu a volta por cima. Tudo sob controle. Sem espaço para meios recados.
Deu tudo errado, é claro.
As mãos tremeram, os olhos marearam. Era você de novo - carne, ossos e todas as mentiras.
Era você e o seu toque, a sua voz, o seu abraço.
Era você e o que nós fomos, tudo o que se perdeu e as coisas que não vivemos.
Era você e a minha falta de ar, de tempo e de medo.
Era você e eu, vivendo o nós de novo.
E até que o dia seguinte chegasse e eu pudesse contabilizar o estrago, só queria aproveitar. Só queria o faz de conta, o tempo que parou.
E senti então a sensação de estar desarmada por completo mais uma vez. Me senti apaixonada e perdida. Meio louca, meio arrependida e cheia de coragem. Me senti a pessoa mais forte do mundo quando, naturalmente, todo o meu orgulho perdeu completamente o sentido.
Fui o de sempre: com você, eu mesma. E amei você em cada detalhe de cada segundo da nossa infinita e breve noite.
Já com todos os meus cacos recolhidos, você me olhando como quem se perdeu pelo caminho, era novo dia, hora do beijo de adeus. E então partimos, pela primeira vez juntos, cada um para o seu lado. Eu não saí da sua vida. Você não me deixou. Partimos, como tinha de ser, cada um para o seu mundo, sem culpa ou receio. Era hora de voltar a viver.
E a realidade agora é mais bonita, sem toda aquela necessidade de provar algo pro mundo. Nós ainda queimamos um ao outro como fogo e gasolina, mas agora conhecemos bem demais os nossos limites para esperar por um depois.
O nosso reencontro, casual e inesperado, é o nosso depois.
Depois da bagunça, dos dramas, do tempo necessário para dizer adeus sem machucar ninguém...
Posso agora admitir que talvez eu jamais tenha como normal a tua presença, nossos corpos próximos um do outro.
Sem toque, só saudade.
Nossos olhares sempre nos denunciarão. Há sempre algo capaz dessas denúncias.
Mas bem, agora sabemos, o "depois" é mesmo bonito.
E é quente, de tirar o fôlego e manter na memória. Mas não passa disso.
Talvez nós combinemos mais com reticências que com ponto final...
Não há nada a ser esperado, nem desesperado, afinal.
O nosso depois não tem hora marcada, não tem data de chegada, não tem razão.
Só você e eu, uma saudade não se sabe de quê, corpos que se entregam e a certeza de que tudo acabará exatamente como sempre esteve desde que não somos mais um "nós": completamente bem.
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Estudante de Direito, 24 anos.
Teresina, Piauí.
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