Sobre a saudade eu sei. E sei também do tempo que passou, cada minuto
incontável e, por vezes, tão demorados. Sei das cartas que não chegaram
e também de todas que escrevi, mas não mandei. Sei de algumas coisas
que te aconteceram e de quase nada sobre mim. Algumas coisas não
mudaram. Outras se perderam sem que algo pudesse ser feito.
Às vezes quase te ligo durante a noite, mas desisto porque sei
que você falaria impaciente de um jeito que eu sempre detestei. Às vezes
penso em ver você, mas ainda não sei o que te diria e então deixo pra
lá. Venho deixando para lá todos os dias. Adiando qualquer coisa que eu
não sei o quê, mas que certamente não faria diferença alguma.
Nossa
foto empoeirada guarda sorrisos tão verdadeiros. Tem qualquer coisa
bonita nisso que eu ainda não sei descrever, mas quando souber te
enviarei uma carta contando, pra você ler num domingo e pensar que nem
sou de todo mal assim. Sou bem do bem na verdade. Talvez você não tenha
percebido e eu bem admito que só descobri isso depois que você se foi.
Mas, de qualquer forma, ainda solto palavrões quando bato com o joelho
no canto da cama ou de alguma cadeira por ai. Nada tão imperdoável
quanto às coisas que eu fazia antes. Você pode não acreditar, mas deixei
de precisar pedir desculpas com tanta frequência. Deve ser porque não
tenho mais com quem brigar pra decidir quem apagará a luz.
Sei
de tudo o que você detestava em mim. E mudei. Sério. Melhorei em quase
tudo. Só continuo tão ou mais exagerada quanto antes, mas também quem
garante que não era isso que desencadeava todo o resto? Acho que eu
nunca vou saber. Pra falar a verdade, nem me interessa. Na maior parte
do tempo estou mais preocupada em ler ou assistir qualquer coisa que
ficar me policiando pra ser alguém melhor. Ser alguém melhor tem de ser
algo natural. É o que eu acho. Mas eu também acho que você não deveria
ter ido embora, então o que eu acho não deve contar muito.
No fim
das contas o que eu queria era que você recebesse essa carta. Eu não vou
mandá-la, a gente sabe disso. Mas eu realmente queria que você lesse
qualquer uma das milhões de cartas que escrevi pra você. Não para que me
mandasse uma resposta. Eu sei que você não o faria. Era só pra eu saber
que você não me esqueceu. Era só pra eu saber que mesmo não fazendo
falta, você continua sabendo que eu existo. Sabendo que esse sentimento
existe. E ele é lindo. E verdadeiro.
Era só pra você saber que
quando chove é em você que eu penso. E quando faz sol eu quero ter você
comigo. Se o tempo passa eu só o sei por que conto o tempo em que não
tenho você. E tem alguma coisa no teu sorriso que não me deixa te tirar da cabeça. Mas isso não é coisa que dá pra escolher. E também se
pudesse eu nem sei se faria. Porque não dói, sabe? Nem mesmo por um
segundo. É bonito demais pra doer. É grande demais sentir alguém assim,
independente de tempo. É mágico demais, pra alguém simplesmente me pedir
pra deixar de te amar. Eu não vou. Pra lugar nenhum. Vou ficar aqui e
continuar escrevendo. Vou sonhar todos os dias, sem esperar por nada. E
não importa que digam que é errado. Tem tanta coisa errada no mundo
que ninguém se importa em mudar. Sentimento bonito assim só pode é fazer
bem. A gente sabe disso. Em cada riso dado, em cada momento juntos, em
cada sonho realizado. A gente sabe disso. E só de saber que dividimos
esse segredo, já sou feliz. Sem garantia nenhuma, mas com toda a
esperança que só o amor é capaz de não deixar morrer.
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